Somos Auxiliares de Controle
de Endemias, com cargo criado no ano de 2002, em meio a uma epidemia de
dengue. Até então, este tipo de serviço
era realizado por profissionais terceirizados contratados pela prefeitura do
Rio de Janeiro. Buscando uma melhoria na
qualidade dos serviços, e devido aos caos de uma epidemia, surgiu a necessidade
da criação de um cargo efetivo que atuasse diretamente junto à população
basicamente em relação à dengue.
O grande concurso do ano de
2002 despertou um enorme número de inscritos.
Muitos por estarem desempregados ou saindo do serviço militar
obrigatório, outros vindos da iniciativa privada. Entretanto, todos almejavam uma estabilidade
empregatícia, reconhecimento profissional, valorização financeira, além de
integrar a área da saúde de forma efetiva. Os aprovados tomaram posse do seu
cargo e, pouco tempo depois, assumiram seus postos. A realidade das condições de trabalho e a
falta de uma perspectiva profissional saltavam aos olhos e afligiam a todos
nós.
Ficávamos lotados de forma
provisória em igrejas, banheiros de colégios, clubes, associação de moradores,
dentre outros. Muitos destes eram
insalubres e não apresentavam condições mínimas de higiene para o acolhimento
de profissionais de saúde e o pleno desenvolvimento de suas atividades
profissionais, alimentícias e higienização. Entre outros absurdos destacamos:
falta de informação sobre os riscos envolvidos em nosso trabalho, falta de equipamentos
de proteção individuais ligados à utilização de insumos (venenos), falta de uniformes
e, inclusive, falta de protetores contra o sol.
Além disto, observamos um
grande número de assédios morais durante o trabalho, das mais variadas formas,
vindas não só das ditas chefias diretas, mas até mesmo, advindos da área
administrativa. Não nos sentíamos parte integrante de nada, quanto mais
pertencente á área da saúde. O
sentimento era único, e aos poucos começamos um processo de luta contra tudo
que afeta o nosso rendimento profissional e a nossa dignidade humana.

Com a crescente demanda da
população, cada vez mais carente de cuidados básicos e de prevenção, vislumbra-se
a real importância de abranger estes servidores em outras atividades inerentes
e interligadas aos novos modelos de saúde instalados em nosso município e,
também, atuando de forma integrada com outras vigilâncias: epidemiológica,
sanitária e saúde do trabalhador.
Por fim, o quadro de total
descrédito passa a ter uma luz no fim do túnel com o efetivo aumento do número
de clínicas da família e a conjunção dos serviços prestados pelos auxiliares de
endemia, integrando-os aos quadros das equipes de saúde. Os locais de trabalho passaram em sua maioria
para dentro das unidades de saúde e os setores administrativos começaram a nos
reconhecer como uma categoria e não como um bando.
Nem tudo são flores, pois
questões de proteção individual e coletiva ainda passam longe dos olhares dos
coordenadores locais de saúde, além de hiatos sanitários dentro de nossa cidade
sem a cobertura efetiva das clínicas da família. Outra preocupação nossa ainda, é o viés dos
entraves políticos quando a nossa mudança de nível profissional e de um plano
de cargos e salários.
A nossa luta não termina, e
até hoje, ela está em pauta e presente em nosso dia-a-dia. Uma de nossas principais reinvindicações é a
passagem de nosso nível de escolaridade para ensino médio. Um dos avanços nesta parte está sendo o
oferecimento pela Secretaria Municipal de Saúde de um curso técnico de
vigilância em saúde ministrado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio ligado a Fundação Oswaldo Cruz que é um pré-requisito para viabilizar
este nosso sonho profissional.
Novamente, os olhos ficam
sobressaltados em ver uma dualidade de intenções. Por um lado, o oferecimento de cursos
profissionalizantes e, por outro a relutância em transformar-nos em técnicos de
vigilância em saúde de fato com mais atribuições e, responsabilidades.

Não nos contentamos em
sermos apenas auxiliares de endemias, almejamos, sim, uma qualificação
profissional e salarial, mas que em nenhum momento afasta-nos dos nossos
deveres como profissionais de saúde.
Apenas, queremos respeito, mudança de nível de escolaridade
transformando-nos em TÉCNICOS DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE para que possamos, de
forma oficial, exercermos a função de técnico na realidade e, não apenas,
estampado em nossos uniformes.
Não só os auxiliares de
controle de endemias estão perdendo com esta demora, mas sim a população de um
modo geral perde com a subutilização de nossa mão-de-obra qualificada, numerosa
e não aproveitada de forma eficaz e coerente dentro do nosso SISTEMA ÚNICO DE
SAÚDE (SUS).
ATCERIO
Rio de Janeiro, 05 de julho de 2016.
Colaboradores: Herivelton Teixeira e Fernando Rodrigues (Cap 3.3)
Ótima colocação!!!
ResponderExcluirÓtima colocação!!!
ResponderExcluirMuito bom!
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