"A proximidade gera familiaridade, que por sua vez, gera confiança."
(Nocholas Sparks)
O modelo de política de proximidade que gostaria de abordar, por hora, é aquele que possui uma maior relação de aproximação de nossa parte com o cotidiano da população a qual interagimos no dia-a-dia e que nos tornemos assim, mais visíveis aos olhos dos diferentes sujeitos que lidamos. Pensar política de proximidade é, antes de tudo, compreender o potencial de articulação entre os diversos atores envolvidos em nosso cenário (profissionais, população, gestores) no universo da promoção em saúde.
Indico praticarmos a política de proximidade no contexto daqueles que vão até os domicílios das pessoas, dos que se fazem presentes no cotidiano das comunidades e dos que experienciam as realidades dos territórios da forma mais particular/individual possível. Nas atividades de controle de endemias realizado por agentes espalhados no campo, os ACE percorrem o município inteiro com o objetivo de promover a saúde, e o fizeram muito bem no ano de 2015, onde realizamos 10 milhões de visitas domiciliares. Para muitas comunidades, esses atores são os únicos sujeitos públicos que chegam tão próximo delas. Essa particularidade dá aos agentes a capacidade de poder articular informações específicas para atuar sobre localidades tão singulares.
No campo da saúde coletiva, na maioria das vezes, o território é compreendido apenas sob a égide da norma, ou seja, como mero palco onde as ações devem ser desenvolvidas. Quando, de fato, a categoria território deve ser usada na compreensão do espaço vivido das populações para subsidiar as intervenções propostas pelas políticas de saúde e demais intervenções. A partir do momento que os agentes visitam os domicílios, conversam com as pessoas, relacionam-se com as comunidades, eles passam a entender que o território não é estático, abstrato, mera cartografia. O território é dinâmico, complexo e representa como a sociedade se relaciona.
Utilizar o território apenas como categoria de divisão do processo de trabalho, através de mapeamentos, esquadrinhamento do espaço, definição de áreas de abrangência, é reduzir o potencial de análise do cotidiano das populações que é condição para pensarmos ações de promoção da saúde e interferência no cotidiano. Precisamos fazer política de proximidade para transcender dados quantitativos, definido por um conjunto de imóveis, quadras ou bairros.
A Vigilância em Saúde possui táticas operacionais para visitar residências, pontos comerciais e espaços simbólicos para as populações no seu cotidiano. Esse poder deve ser potencializado pelos agentes de campo. As informações repassadas e conhecidas representam troca e poder. Saber o que acontece, onde e como acontece são desafios cada vez mais perseguidos por gestores e executores de políticas públicas, mas somos nós quem dominamos isso, pois estamos presentes ativamente no território. A aproximação gerada no campo que é fruto de visitas domiciliares deve ser transformada em informação visando o empoderamento dos diferentes atores (comunidades, agentes de campo, outros profissionais de rua, transeuntes). Neste sentido, somente pensar o território em agrupamento de quarteirões ou o estabelecimento de áreas de abrangência para atuação, não corresponde à territorialização ideal dos agentes, na forma como defendo aqui.
O trabalho do ACE não se resume à prática de monitorar o ambiente, intervindo por meio de técnicas de tratamento ambiental e educação, mas também compete informar às pessoas presentes nos imóveis visitados a situação de saúde e cotidiano, com base nas informações coletadas nas visitas rotineiras e observações do contexto. Faz-se necessário a prática cada vez mais constante da política de aproximação com a sociedade.
ATCERIO
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2016.
Colaboradora: Eliza Abrantes (Cap 3.2)