quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sou ACE! Sou servidora estatutária e quero valorização.

   Sou ACE! Para os leitores que não sabem o significado da sigla, sou Auxiliar Controle de Endemias, Agente de Saúde ou então “Menina da Dengue” ou até “Mata Mosquito”. Sou Servidora do Município do Rio de Janeiro, vinculada a SMS (Secretaria Municipal de Saúde).


 Eu e mais 2.415 colegas, agentes, combatentes e guerreiros, quando tomamos posse do cargo assumimos uma missão, exercer algumas atribuições do cargo e acima de tudo “servir” a população Carioca. No Termo de Posse atestamos que seremos Servidores 24 horas no dia e 7 dias na semana, digamos então que atrelado as nossas tarefas de trabalho e a real necessidade da população carioca, nós prestamos um serviço Assistencialista. Superamo-nos a cada dia na linha de fogo de uma batalha severa e injusta. Somos os únicos representantes do poder público a visitar os domicílios de pior localização na cidade, áreas esquecidas com pouco ou nenhum recurso, insalubres e que oferecem enorme risco à saúde dos moradores e dos agentes.
   Nosso cargo tem a responsabilidade de Promover a Saúde, ou seja, adotar medidas pré-estabelecidas de prevenção para evitar agravos de saúde. Embora sejamos um Combatente de Endemias, devido à adoção de políticas prioritárias de saúde, somos quase que exclusivos “exterminadores” de mosquitos vetores da tão conhecida Dengue e agora as temerosas e enigmáticas Zika e Chikunguynia. Em nosso município o vetor protagonista dessas doenças é o Aedes Aegypti, temos ainda o Aedes Albopictus e o Culex ambos com grande potencial para serem incluídos no cenário de agravos em saúde.


                                                           Durante os últimos anos os ACE’s vêm realizando um trabalho exaustivo para vencer essa batalha, mas além do mosquito, no caminho temos alguns obstáculos, como o abandono pelo Poder Público de áreas residenciais mais carentes, ausência de outros segmentos de Esfera Pública nesses locais, engessamento das estratégias de combate, material precário ou ausente, falta de incentivo profissional, falta de capacitação continuada, conflito hierárquico, competição esfera pública e privada, e mais...

   Representamos o verdadeiro legado da Saúde, o SUS, uma grande conquista da nossa imatura democracia, o SUS é constitucional e o resultado de uma luta da sociedade. Nós os ACE’s somos contra a precarização do Sistema Único de Saúde, que preconiza a Universalidade, Integralidade e Equidade. E que esteja claro que o SUS é muito bem formulado e com amparo legal, porém o Poder Executivo não vislumbra interesse em investir no Sistema o que dificulta sua articulação e resultados favoráveis.


   Nós, os ACE’s também sofremos com esse impasse e o abandono. Em um passado não muito distante atendendo a uma nova diretriz de Saúde Pública Nacional, uma nova Política de Promoção em Saúde do Município do Rio, grande parte dos ACE’s que já atuavam em alguns territórios foi inserida nas Clinicas da Família, despertando uma boa perspectiva de atendimento à população e valorização profissional, porém a realidade foi bem diferente. Passamos a ser renomeados como Agentes de Vigilância em Saúde (AVS) e um curso de aperfeiçoamento profissional (PROFORMAR) e um curso técnico foram oferecidos (CTVISAU), entretanto, com programação de formação demasiadamente morosa e por fim sem aproveitamento real pela maior parte dos agentes, e mesmo após alguns anos em andamento não foi possível a formação de todos eles. O resultado dessa confusão é que o ACE’s vive uma crise de identidade, falta de reconhecimento e remuneração por seu enfrentamento diário.

  Pelo exposto endossamos o desejo de somar e Promover a Saúde e Bem-estar da população Carioca. Queremos e podemos ser mais do que “matadores de mosquito”. Os números são bons e favoráveis a nós, pois existe um declínio de infectados pela Dengue ao longo dos últimos anos, mas queremos um trabalho QUALITATIVO e NÃO QUANTITATIVO. Desejamos autonomia e qualificação para aprimorar o Combate aos agravos em saúde. Queremos um ambiente mais saudável para população Carioca, isso inclui a nós mesmos, a nossa família e amigos. E por fim, queremos VALORIZAÇÃO.

ATCERIO

Rio de Janeiro, 20 de julho de 2016.

Colaboradora: Michelle Blandy (Cap 2.1)

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