terça-feira, 2 de agosto de 2016

Mutirão - Fazer ou não fazer, eis a questão

                                                                                                                                                                                              "Sem esmorecer para não desmerecer"
(Oswaldo Cruz)


    No Brasil desde o inicio do século XX, o Aedes Aegypti é causador de um dos maiores problemas de saúde pública do país, a Dengue. O mosquito que também transmite os vírus Zika, Febre Amarela e Chikungunya se tornou o inimigo nº 1 da nação.

    Discussões sobre como controlar o avanço do mosquito e diminuir a incidência dessas doenças ocupam a agenda das autoridades Municipais, Estaduais e Federais. No dia 09 de junho deste ano foi realizada uma audiência pública da Comissão da Agricultura e Reforma Agrária, onde foi defendido pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação agrícola o uso de aplicação aérea de inseticidas como uma alternativa para evitar novas epidemias de doenças provocadas pelo Aedes. O Ministério da Saúde defende o aprofundamento dos estudos antes que seja autorizada a realização de um projeto- piloto devido a possível contaminação por agentes químicos na população.

    Sabendo do risco de contaminação na aplicação aérea e das tentativas infrutíferas de eliminação do mosquito, qual seria o melhor método para acabar de vez com esse mal que nos assola?

Ontem

    Oswaldo Cruz conseguiu essa proeza em 1907, acabando com a Febre Amarela no Rio de Janeiro. Em 1958 foi finalmente reconhecida a erradicação do Aedes Aegypti pela Organização Mundial de Saúde, mas como ele conseguiu? 

    Oswaldo Cruz criou, dentre outras medidas, as Brigadas “Mata-Mosquitos” que agiam com rigor na cidade, invadiam imóveis, mesmo sem a permissão dos proprietários, eliminavam e tratavam todos os tipos de locais que pudessem ajudar a proliferação do mosquito.

Hoje 

    O trabalho de Controle de Endemias, mesmo com todo apelo por meio de propagandas e programas educativos contra o Aedes, de forma geral esbarra na falta de colaboração da população que ainda não reconheceu a importância da parceria com os Agentes de Controle de Endemias e Agentes Comunitários de Saúde, tendo em vista que cerca 80% dos criadouros estão dentro de casa.

    No município do Rio de janeiro o Agente de Controle de Endemias é responsável por um território fixo com abrangência de até 1200 imóveis por ciclo, o que possibilita a formação de um vínculo mais humanizado com os moradores e conhecer os pontos críticos da comunidade, facilitando a detecção e eliminação de focos com maior eficiência. Todavia, a territorialização do Agente ainda não conseguiu acabar com um problema grave, o alto índice de pendências, ou seja, casas fechadas, em algumas localidades o índice ultrapassa 50% dos imóveis. 

    Os motivos de encontrarmos muitas casas fechadas variam: imóveis abandonados, outros para venda ou aluguel, alguns ficam fechados porque os moradores trabalham fora, outros por causa do medo de abrir as portas por conta da violência urbana. Independente do motivo, o trabalho fica prejudicado e imóveis com possíveis focos não são vistoriados.

Uma boa alternativa para contornar o alto índice de pendência é o Mutirão


O Olhar do Morador

Mutirão dos ACEs em Bangu.
    Muitas vezes o morador não abre o imóvel com medo de sofrer algum tipo de violência, sem saber se aquela pessoa que bate à porta é realmente um Agente, mas quando ele se depara com a rua cheia de trabalhados e percebe a participação de seus vizinhos, o morador fica mais confiante e assim conseguimos derrubar o Índice de pendência em mais de 20%. Se o mutirão for realizado nos finais de semana o número cai em até 40%.


O Trabalhador

    O trabalho solitário do Agente de Controle de Endemias também oferece riscos, principalmente as mulheres que são alvos de pessoas desequilibradas, existem muitos relatos de mulheres que foram assediadas e assaltadas nas ruas. Lembremos o caso da Agente Comunitária de São Paulo que foi estuprada e encontrada morta no ultimo dia 30 de junho. A Agente havia sido chamada por um paciente, que cometeu o crime. Também aconteceu com nosso colega Agente de Endemias Júlio Baptista que foi brutalmente assassinado em uma comunidade do Rio de Janeiro em julho de 2009.

   O trabalho em mutirão propicia maior segurança tanto aos agentes quanto aos moradores aumentando assim o número de imóveis alcançados. Nas áreas em que o Agente de Controle de Endemias esta integrado com a equipe de Saúde da Família os benefícios são ainda maiores, os mutirões aumentam o vínculo da equipe e a troca de experiência multidisciplinar.

    O Plano de Contingência Municipal RJ 2016-2018, integra ainda mais as atividades entre ACE e ACS, a fim de conter o crescimento dos casos de microcefalia associados ao Zika Vírus, o Agente Comunitário de Saúde indica onde estão e quem são as gestantes a serem assistidas, auxiliam os Agentes de Controle de Endemias nas vistorias dos imóveis e indicam pontos críticos da comunidade. 

   
ACEs da CF Rosino Baccarini em mutirão,
Apoio da equipe: Carol Vale.
Integração, socialização, humanização, segurança e eficiência, o mutirão une a todos em um só propósito, eliminar o Aedes Aegypti. 


Juntos Somos Fortes!


ATCERIO

Rio de Janeiro, 02 de agosto de 2016.

Colaboradora: Carol Vale (Cap 5.1)

3 comentários:

  1. Belo texto e concordo plenamente! O trabalho solitário não é eficaz e nos coloca em diversas situações de risco.

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  2. Exatamente! O trabalho em equipe é sempre mais proveitoso.

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  3. Defendo também o fim do trabalho de tratamento.
    Acredito que mutirões feitos com eficácia, concluindo pelo menos 2 quarteirões(ou 1 que seja) por dia, o índice de incidência de focos diminuiria bastante, ao contrário do tratamento, onde um único agente só voltaria ao imóvel 2/3 meses depois...

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